Arquitetura Fascista
Você já ouviu falar na arquitetura fascista? A grande maioria das pessoas conhecem diversos estilos arquitetônicos como: Clássico, Barroco, Eclético, Moderno, dentre outros.
Os estilos arquitetônicos, normalmente, andam de mãos dadas com as artes, prova disso está em que já se estudou arquitetura em academias de belas-artes.
Mas, não esqueçamos que arquitetura e poder também andam lado a lado. Digo isto porque quando governos pretendem demonstrar poder e autoridade logo buscam edificações monumentais que se apresentem como tal.
Fazendo uso da arquitetura para demonstrar tais desejos acima citados.
Não foi diferente nos regimes de orientação fascistas que ocorreram pelo mundo. Tivemos diversos famosos exemplos e dentre eles abordaremos o Alemão Nazista e a Itália Fascista.
“Hitler e Mussolini precisavam demonstrar por meio da arquitetura (também) a sua influência e poder”
Ambos Hitler e Mussolini precisavam demonstrar por meio da arquitetura a sua influência e poder. Por isso recorreram por meios quase que semelhantes para chegar a um ponto comum.
O CASO ALEMÃO
O Fuhrer alemão contou com um grande aliado em um plano de reconstrução de Berlim Albert Speer. Que a transformaria na Welthauptstadt Germania, ou “Germânia, a capital do mundo”. Albert Speer era conhecido como famoso arquiteto do III Reich conviveu com o ditador por 14 anos.
E além de trabalhar como Ministro do Armamento, foi condenado no julgamento de Nuremberg a 20 anos de prisão. Devido a sua participação no regime. Isso se deu principalmente pelo uso de trabalho escravo nos campos de concentração.
O plano para a nova Berlim incluía diversos grandes edifícios, estádios, avenidas, arcos, dentre outros.
Alguns chegaram a sair do papel e foram executados, mas a maioria ficou no campo da maquete ou das idéias. Darei destaque a alguns.
Estádio Olímpico de 1936:
- Esse é um dos que foi construído e está aí até hoje contando a história. Palco de diversos eventos esportivos e local donde Hitler assistiu um afrodescendente ganhar de atleta “ariano”.
Prachtallee, a “Avenida dos Esplendores
- Avenida central inspirada na parisiense Champs-Élysées teria cerca de 5 km de extensão. No centro seria erguido uma espécie de arco do triunfo, com nomes dos alemães mortos na 1ª Guerra Mundial em sua base.
- Em suas margens ficariam os grandiosos palácios nazistas, edifícios ministeriais e governamentais, cinemas, hotéis e lojas de departamento.
Volkshalle, o “salão do povo”
- Também inserido na via central em uma de suas extremidades, foi projetado para abrigar mais de 150 mil pessoas de uma vez só. Possuindo uma cúpula de 250 metros de diâmetro e 200 metros de altura. Tudo isso lhe daria, se contruído, o título de maior estrutura fechada já construída pelo homem.
Zeppelinfeld ou Catedral da Luz
- Foi um dos primeiros trabalhos de Albert Speer para o Partido Nazista. Tratava-se de uma tribuna com 24 metros de altura e quase 400 metros de comprimento. Durante uma das apresentações o arquiteto mandou instalar holofotes antiaéreos que renderam ao local este apelido. Foi construído, mas demolido parcialmente após a guerra.
Essas estruturas seriam tão pesadas que os engenheiros da época, devido ao solo pantanoso de Berlim. Ficaram preocupados com a questão das fundações e elaboraram o que chamaram de Schwerbelastungskörper. Que nada mais é do que um cilindro de concreto. O objetivo? Saber a resistência do solo. O resultado foi um afundamento de 18 cm donde o máximo permitido seriam apenas 6 cm.
De todos esses projetos, ou poucos realmente executados, podemos notar diversos elementos semelhantes. Destacarei alguns: traços retos, simetria, repetição de elementos, volumes pesados, monumentalidade, inspiração no clássico, escala desumana, uso recorrente do simbolo nazista, dentre outros. Alguns elementos também estão em outros estilos, não é? Parece que muitos andam perto um do outro.
O CASO ITALIANO
O Duce italiano contou, também, com um estilo arquitetônico para chamar de seu, o Fascista. Um dos seus expoentes foi Marcello Piacentini que ficou conhecido como o “arquiteto oficial do regime fascista”. Mas o caso italiano foi mais curioso porque coexistiu com o Racionalismo Italiano. Alguns não tratavam todos os arquitetos como fascistas politicamente, mas eles eram preocupados com questões estéticas rígidas. Do mesmo modo, o regime se aproveitou dessas características para passar a mensagem do regime político italiano vigente.
Por vontade de Mussolini e projetado por Piacentini saiu do papel um bairro, em Roma, chamado de EUR (acrônomo de Exposição Universal Romana). Construído para comemorar os 20 anos da Marcha sobre Roma, marco oficial da derrubada do rei Vittorio Emanuele III e ascensão do Duce. Também servia para abrigar a exposição mundial de 1942 (não realizada). Contudo, devido a Segunda Grande Guerra apenas um dos prédios ficou pronto antes da queda do regime.
Nos dias atuais esse bairro é ocupado por diversos equipamentos públicos. Nele encontra-se museus, escolas e equipamentos comerciais e sedes de grandes empresas. Mas, também mantém uma área residencial de com um metro quadrado de valor bastante elevado.
Um dos edifícios instalados nessa estrutura é o Palazzo della Civiltà del Lavoro. Foi projetado por volta do ano de 1936, inaugurado incompleto em 1940 e concluído já no pós guerra. Projeto de Giovanni Guerrini , Ernesto Lapadula e Mario Romano aprovado por um juri presidido por Piacentini.
Trata-se de um elemento com características que abordam ricamente tudo aquilo que deseja passar o regime totalitário. Com sua simetria, sua releitura clássica e o uso de diversas estátuas com a representação do “homem fascista” em comparação as esculturas clássicas.
Além de possuir uma planta formada por quatro lados iguais. Bem como uma quantidade de arcos totalizando a mesma nas quatro faces, temos uma curiosidade a mais. O número de arcos na vertical são seis, a mesma quantidade do nome B-E-N-I-T-O. Já a quantidade de arcos na horizontal são oito, mesma quantidade de M-U-S-S-O-L-I-N-I. Na parte superior de uma das fachadas está inscrito “Um povo de poetas de artistas de heróis / santos de pensadores de cientistas / navegadores de transmigradores”.
Outro projeto do arquiteto oficial do regime, Piacentini foi a Roma La Sapienza. O campus da universidade de Roma foi concebido em 1932 e iniciado em 1935. Trata-se de uma edificação que buscou beber de outras fontes em sua concepção, os participantes do projeto, os engenheiros e arquitetos, buscaram inspiração nas faculdades americanas e europeias adaptando as realidades para a italiana, para o “tradicional”. Assim eles buscaram tornar o prédio interativo entre o ambiente externo e interno, de forma a não diminuir a edificação, mas integrá-la ao ambiente.
A edificação segue um contexto retilíneo quebrado por elementos na transversal, diz o arquiteto que foi para levar uma ideia mais humana, todavia tudo isso surge de uma escala monumental. Comenta o arquiteto sobre a obra: “A concepção é evidentemente a mais humana e mais eficaz: surge de uma ordem e de um postulado de grandeza e depois se adapta às várias necessidades especiais de cada elemento. Portanto, esta Universidade da Cidade de Roma, atrai toda a sua grandeza pela ordem e simetria […] A entrada monumental, consiste em uma propylaea solene e dá origem a uma avenida larga coberta em edifícios, e fundo para a grande maioria da Reitoria, ladeado por todas as outras faculdades”
Assim como o caso nazista podemos observar os mesmos elementos repetidos na Itália, consequentemente com alguns acréscimos e particularidades. Enquanto Hitler teve um arquiteto para chamar de seu, Mussolini utilizou-se de um estilo e de diversos arquitetos. Como resultado disso que acabaram por contribuir de alguma forma para a propaganda do seu regime. Mas, se atendo a arquitetura tivemos uma forte inspiração no classicismo ou neo-classicismo o que o torna uma espécie de ecletismo, todavia, elementos como esculturas (reforçando a identidade do homem fascista, bebendo da fonte da Roma Antiga), a simetria, os arcos e grandes frontões foram os destaques.
NO BRASIL
Mas o que faz o nosso país aqui? Não tivemos um regime facista como os de Hitler ou Mussolini… Certo? Em parte! Como falei no inicio, arquitetura e poder andam de mão dadas e, por isso, também existem casos de arquitetura fascista aqui em terras tupiniquins. Blocos pesados, fachadas gigantescas, inspirações clássicas, simetria demasiada, escala monumental, vocês não enxergam algo parecido com o que mostramos aqui pelas ruas do nosso Brasil?
Existiu, aqui, uma ditadura que chegou a flertar com os movimentos fascistas europeus e até deixou, no nosso solo, crescer e florescer movimentos apoiadores dessa causa. Tudo isso aconteceu durante a Era Vargas.
A cidade do Rio de Janeiro ainda era a capital e lá podemos observar ainda mais a estrutura federal da época que foi construída seguindo um modelo que deveria mostrar o poder do país, a força do governo, deveria passar a ideia de solidez e qual seria o estilo a se adorar?
Ministério da Fazenda no RJ
Vamos a um caso bastante marcante aqui no Brasil, o Ministério da Fazenda no RJ. Edifício construído em 1943 em pleno Estado Novo de Getúlio Vargas, foi planejado para abrigar as diversas repartições do ministério que ficavam espalhadas pela cidade. Possui 14 andares, uma biblioteca com mais de 150 mil exemplares e 4500 funcionários trabalham no local todos os dias.
Algumas curiosidades desse edifício foi a recusa do ministro da época em executar o projeto ganhador do concurso público, do qual Niemeyer ficou em segundo lugar. A autoridade preferiu, então, encomendar um projeto a seu gosto, feito por Luís Eduardo Frias de Moura, como resultado nasceu esse exemplar de arquitetura neoclássica ou eclética como diriam alguns. Certamente achamos que mais se parece com a arquitetura fascista, não acham? Portanto, podemos observar nesse exemplar, diversos elementos dos europeus citados anteriormente, dentre eles o apego ao clássico (colunata com altura maior que 9 metros), simetria, volumes pesados, esculturas, dentre outros.
Edifício Matarazzo ou Palácio Anhangabaú
Enquanto em São Paulo, um arquiteto citado anteriormente também atuou e fez um conhecido prédio, o Edifício Matarazzo ou Palácio do Anhangabaú por Marcello Piacentini. Foi inaugurado em 1939 para ser a sede das Industrias Reunidas Matarazzo e serviu a essa função até 1974. Desde 2004 é a sede da Prefeitura de São Paulo.
Do mesmo modo possui todos os elementos citados anteriormente, sendo revestido em mármore travertino romano. Acima das suas portas de entrada possui elementos decorativos que representavam as atividades empresarias dos antigos proprietários, a edificação também possui 14 andares e é conhecido por possuir um teto jardim que ajuda na questão do conforto ambiental para seus usuários.
Por fim, fica claro o uso da arquitetura como uma forma de demonstração de poder, assim como se usa os mais diversos tipo de artes com o mesmo propósito.
Dessa forma, passamos a observar como podemos ser influenciados, quer queiramos ou não, por ideias que estejam em nossas mentes. Os regimes totalitários eram admirados por diversas pessoas, fora e dentro do campo político, e assim espalharam elementos de sua propaganda nos mais longínquos lugares do planeta.
A arquitetura fascista buscou na fonte clássica os elementos que os próprios romanos usaram. Para demonstrar a força e poder que tinham.
Adaptaram essa realidade aos tempos deles e as suas ideias, espalhando pelo mundo os seus ideais. Isso mostra o quanto pode ser perigoso a junção simplista de arquitetura e com o poder.
Busquem em sua cidades exemplos que possam se encaixar nesse modelo! Vamos refletir e enxergar o quanto a preservação da história da arquitetura e do urbanismo são importantes para todos.
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